Safra recorde no agronegócio: bom momento traz desafio da gestão financeira estratégica ao setor

Produção expressiva reforça a força do agro brasileiro, mas também expõe a necessidade de maior controle e planejamento financeiro

 

 

O agronegócio brasileiro encerrou a safra 2024/25 com números significativos. Segundo a Conab, a produção total de grãos foi de 350,2 milhões de toneladas, um avanço de 16,3% em relação ao ciclo anterior. Esse salto foi impulsionado pela recuperação da produtividade média das lavouras, com destaque para o Mato Grosso, que passou de aproximadamente 3,7 mil quilogramas para mais de 4,2 mil quilogramas por hectare.
Esse cenário de expansão, no entanto, acarreta novos desafios e fatores externos que escapam do controle dos gestores. Por outro lado, a gestão financeira surge como ferramenta decisiva para lidar com esses desafios. Segundo o vice-presidente da unidade de negócios especializada em Agronegócio da consultoria Falconi, Andre Paranhos, apesar dos bons números de colheita, o setor precisa lidar com custos crescentes, oscilações de mercado e riscos externos, que incluem mudanças climáticas, variações no câmbio e políticas públicas. Ele reforça que “cautela e gestão” são as palavras-chave para transformar a bonança produtiva em resultados sustentáveis.
Como destaca a Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), a recomendação é adotar práticas mais robustas de planejamento e controle, com análises periódicas de fluxo de caixa, margens de lucratividade e estrutura de custos, além de integrar a gestão financeira à estratégia do negócio. Isso significa compreender onde estão as melhores oportunidades de investimento e quais riscos devem ser minimizados.
A priorização de investimentos, o planejamento financeiro estratégico e o controle rigoroso de gastos tornam-se elementos indispensáveis. Em vez de expandir sem critérios, produtores e empresas precisam avaliar cuidadosamente onde aplicar recursos, identificando oportunidades reais de retorno e evitando investimentos precipitados, como a compra de novos maquinários ou a ampliação de áreas sem respaldo financeiro adequado” explica Paranhos.
A tecnologia também aparece como uma forte aliada nesse processo. Sistemas de gestão agrícola, plataformas de agricultura digital e ferramentas de business intelligence permitem rastrear custos, monitorar margens em tempo real e antecipar cenários. Essa integração entre finanças e estratégia contribui para mais previsibilidade, facilita o acesso ao crédito e reduz a vulnerabilidade frente às oscilações do setor.
Segundo o VP da Falconi, ainda é comum encontrar empresas, especialmente de perfil familiar, sem controles estruturados, operando com base apenas na experiência. Para ele, esse modelo de negócio, além de limitar a capacidade de investimento, pode resultar em dificuldades de caixa e até em pedidos de recuperação judicial. Por isso, a mudança de mentalidade é fundamental, enxergar a gestão financeira não como burocracia, mas como caminho estratégico de geração de valor.
Em um setor cada vez mais competitivo, com margens operacionais mais estreitas e crescente volatilidade, quem dominar seus custos, conhecer seus indicadores e planejar com inteligência estará sempre um passo à frente. A alta da safra mostra a força do agro brasileiro, mas também reforça a necessidade de administrar com responsabilidade o presente para garantir um futuro sustentável e rentável”, conclui Paranhos.