A dança toma conta de Campinas em 2025. De 25 de setembro a 5 de outubro, a cidade se transforma em palco da 14ª Bienal Sesc de Dança, que comemora dez anos de história na região e reúne corpos, ritmos e linguagens de diversos cantos do mundo. São cerca de 80 atividades – entre espetáculos, performances, instalações e ações formativas – representando 18 países e 10 estados brasileiros, que expandem os limites da cena contemporânea e convidam o público a explorar novas percepções e reflexões.
Realizada pelo Sesc São Paulo, com apoio da Prefeitura Municipal de Campinas e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a Bienal chega a sua sexta edição em Campinas – o festival acontece na cidade desde 2015, após oito edições em Santos (de 1998 a 2013) – reafirmando a dança como espaço de encontro, diversidade e invenção. Danças cênicas, urbanas, populares, experimentais e comunitárias compõem uma programação vibrante que mistura tradição e vanguarda, colocando em diálogo artistas consagrados e novas vozes.
Juani Maniva apresenta o espetáculo Rito Artístico: Farinha Poética nos dias 29 e 30 de setembro, segunda e terça, às 19h, no Jardim da Casa do Lago (Unicamp). Nesta performance cênica-ritualística, o artista retorna às suas origens, em Concórdia do Pará, e propõe um ato de reconciliação entre corpo, território e ancestralidade. Ele se baseia na produção de farinha de mandioca e nas relações construídas em meio a essa prática agrícola, que o acompanha desde a infância e permeia as vivências de sua família, e transforma gestos, comportamentos e acontecimentos colhidos dessa vivência em um ritual de reconexão e cura.
“Quando convido o público a experienciar essa relação, também o convido a mover forças que espiralam a vida: convocando o passado a abraçar o aqui e agora, integrando-se a isso e recriando a realidade em fluxos de desejos pelo que está por vir. Como um rito de esperançar coletivo. Gestos como cortar maniva, colher e descascar mandioca, torrar e peneirar farinha, tomar banho de igarapé, assobiar para chamar o vento, acender lamparinas e comer farinha com a mão – que compõem o trabalho coreográfico – estão impregnados de sentidos e memórias. Não apenas para mim, mas para quem vem dos interiores da Amazônia. Quando esses gestos são convocados no rito artístico, criam-se portais relacionais de memórias pessoais e coletivas”, enfatiza Juani Maniva.
Outra representante da região é Uýra, indígena em diáspora, dois-espíritos (travesti) e habitante de Manaus (AM), que mostra a performance Ponto Final, Ponto Seguido nos dias 30 de setembro e 1 de outubro, terça e quarta, às 16h, na Praça Rui Barbosa. Em um rito de cura e rememoração, a artista propõe despertar a terra coberta por asfaltos e monumentos no cenário urbano – uma terra que não estaria morta, apenas adormecida. Em meio ao espaço público, ela constrói um sistema radicular em grande escala, desenhado com terra preta sobre o chão. Seu plantio é como uma dança que faz recordar a natureza dentro dos imaginários da humanidade concretada. Ela pensa e ativa ressurgimentos de vida revestidos pelas materialidades e imaginários coloniais: as terras, memórias, águas e florestas que dormem debaixo dos asfaltos.
“A performance nasceu em setembro de 2021, em residência na cidade de Innsbruck, na Áustria. Ali, isolada durante a pandemia, tive acesso à geografia histórica da cidade e à maneira como a riqueza de toda sua arquitetura vinha de territórios indígenas, como o meu, Amazônias – e em como a violência da participação do país no Holocausto está encoberta por uma arquitetura, com monumentos que negam essa história. Tudo cimento cobrindo as violências coloniais e a Terra, e criando o movimento oposto: o do orgulho por estas histórias. Por isso, decidi apresentar esta performance sempre em locais públicos e associados a monumentos das cidades”, conta Uýra.
A programação ainda conta com a DJ Pedrita no dia 2 de outubro, quinta-feira, às 22h30, na Área de Convivência do Sesc Campinas. Ela é uma das pioneiras da cena de aparelhagem do oeste do Pará e proporciona uma imersão na cultura periférica amazônica por meio da música. O brega, o tecnobrega e o tecnofunk invadem a pista, marcada por batidas eletrônicas e pulsantes que representam o movimento conhecido como Rock Doido da Amazônia. Vinda diretamente da comunidade do Caranazal, em Alter do Chão (território do povo borari), a artista apresenta um set explosivo que, acompanhado pelas performances dos artistas indígenas Bambam Borari e Miranha Borari, celebra a identidade, a resistência e a festa nortista.